A testosterona é a verdadeira responsável pela calvície?

A alopecia androgenética é um problema que afeta homens e mulheres no mundo inteiro. Porém, seu efeito é muito mais devastador no público masculino — entre as pessoas que sofrem do problema, apenas 10% são mulheres. Então vem a questão: seria a testosterona a real culpada pela calvície?

Há diferentes tipos de alopecia, mas a androgenética é a mais comum. Ainda com muitos mistérios envoltos no seu tratamento, sabe-se que apenas o transplante capilar consegue cobrir as áreas onde os folículos já não trabalham mais. Então como fazer para frear essa queda? Descubra se a testosterona é o real fator por trás do sumiço dos fios.

A testosterona é a verdadeira responsável pela calvície?

Podemos dizer que sim e não. Sim porque é a partir dela que surge o esteroide responsável por eliminar a funcionalidade dos bulbos capilares; e não porque ela não fará nada com o couro cabeludo se não for sintetizada pela enzima 5-alfa-redutase (5AR).

A 5AR é responsável por converter a testosterona em di-hidrotestosterona (DHT), uma versão consideravelmente mais potente do esteroide masculino. O DHT tem como funções proporcionar características mais masculinas ao organismo, como promover o crescimento de pelos corporais, fazer a maturação do pênis e do saco escrotal na puberdade e o desenvolvimento da próstata. Além disso, também ajuda a aumentar a libido e melhorar a capacidade sexual.

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O problema está quando os níveis de 5AR e DHT são mais altos no organismo e, de quebra, ainda têm folículos capilares com predisposição à calvície. Ao ligar-se aos receptores desses folículos, o hormônio impede que os nutrientes do sangue cheguem até eles, fazendo com que os fios cresçam cada vez mais ralos e finos, até que sumam de vez. O folículo, então, se fecha e “morre”, tornando-se incapaz de produzir um novo fio. 

Além disso, o DHT vai progressivamente diminuindo a quantidade de células responsáveis pela produção de cabelo. 

Todos os fios de cabelo podem ter predisposição genética à ação da testosterona?

Não. Há uma faixa do couro cabeludo que não sofre com a ação do DHT: as laterais inferiores e a parte posterior um pouco acima da nuca. 

Os fios transplantados podem cair pela ação da testosterona?

Não. Os folículos transplantados são aqueles que não sofrem com a predisposição à calvície. Portanto, mesmo que o indivíduo não faça tratamento e continue com uma alta quantidade de DHT e 5AR no organismo, eles continuarão produzindo fios saudáveis normalmente.

Há outros fatores, contudo, que podem afetar esse crescimento, como a má alimentação, o uso de produtos químicos agressivos (descoloração e alisamentos, por exemplo), fumo, doenças crônicas e o envelhecimento.

Calvície é o mesmo que queda de cabelo?

Não. Em média, um indivíduo perde de 50 a 100 fios por dia, mas esse número pode variar. Porém, há muitas pessoas que perdem até mais, mas o crescimento dos fios continua constante e a cabeleira se mantém cheia. Já outras notaram uma queda maior nos últimos tempos, com áreas mais ralas. Essa perda pode ser causada por diferentes fatores, mas dificilmente será por testosterona. Afinal, a alopecia androgenética não é a queda dos fios e sim seu afinamento progressivo até o sumiço total.

O indivíduo que tem notado um aumento na queda dos fios que não têm sido repostos (ou seja, a queda não é reposta por novos pelos) precisa observar alguns fatores que podem estar associados a ela, como:

  • Consumo de álcool: a substância é diurética, ou seja, aumenta o fluxo urinário. Com isso, provoca desidratação — que pode acarretar queda capilar;
  • Hábito compulsivo de arrancar os próprios fios da cabeça, sobrancelhas ou barba (tricotilomania); 
  • Excesso de oleosidade no couro cabeludo (problema que provoca a dermatite seborreica); 
  • Alterações hormonais (da menopausa ou gravidez, por exemplo);
  • Drogas ilícitas (maconha, cocaína, ecstasy, crack) e cigarro;
  • Uso constante de chapinha e secador muito quente;
  • Infecções provocadas por fungos ou bactérias;
  • Falta ou excesso de vitaminas específicas;
  • Traumas na região capilar; 
  • Procedimentos químicos;
  • Distúrbios da tireoide;
  • Metabolismo lento;
  • Má alimentação;
  • Medicamentos;
  • Estresse.

Após cirurgias e partos e durante o tratamento de quimioterapia, o indivíduo pode passar por uma intensa queda dos fios — porém, o problema é passageiro. Cessada a causa, o cabelo volta a crescer.

O que fazer para impedir a ação da testosterona?

Atualmente, o tratamento mais conhecido para impedir que a testosterona vire DHT é o uso de inibidores de 5AR. Eles atuam impedindo que a enzima chegue até o hormônio e faça a conversão. Os mais famosos atualmente são a finasterida e a dutasterida.

Finasterida

A finasterida é o inibidor de 5AR mais conhecido no mercado e indicado pelos médicos. Trabalha inibindo a atuação enzima tipo II, tem vida média variável de seis a oito horas e reduz o nível de DHT em 70% quando usada na dose de 5mg/dia. O tratamento deve ser contínuo, já que os níveis de DHT voltam ao normal 14 dias após a descontinuação do tratamento com finasterida oral. Espera-se que em 12 meses após a interrupção do tratamento haja reversão do resultado atingido. 

Dutasterida

A dutasterida é também indicada para o tratamento de hiperplasia prostática benigna (HPB), que é o crescimento benigno da próstata. Atua como inibidor da enzima dos tipos I e II, tem vida média de quatro semanas, reduzindo o nível de DHT em mais de 90% quando usada na dose de 0,5mg/dia. Por isso, é considerada mais eficaz  que a finasterida — três vezes mais potente em inibir a 5AR tipo I e 100 vezes mais potente com a tipo II.

Um ensaio clínico de 2014 concluiu que a dutasterida na dose de 0,5mg/dia apresenta maior eficácia do que a finasterida 1mg/dia.

Entre prováveis os efeitos colaterais, comuns em fármacos para tratamento de próstata, estão a diminuição do desejo sexual e a da capacidade de obter e manter uma ereção. Contudo, a incidência desses problemas costuma ser baixa entre os usuários.

E o minoxidil?

O minoxidil age de maneira diferente: ele atua como um vasodilatador, aumentando o calibre dos vasos sanguíneos para que o sangue possa circular na área e, consequentemente, levar os nutrientes que os folículos precisam receber para produzir fios.

O mais interessante é que, no início, a substância não era utilizada para o crescimento capilar e sim para tratar hipertensão grave. O aumento de pelos no corpo só foi percebido posteriormente, como um efeito colateral. 

No geral, mulheres utilizam uma solução hidroalcoólica de uso tópico com 2% da substância, enquanto homens utilizam de 3% a 5% — a aplicação costuma ser feita duas vezes ao dia, pela manhã e pela noite.

Há também o medicamento via oral, que para muitos é mais prático (basta ingeri-lo uma vez ao dia) e traz resultados melhores. Contudo, é preciso ter mais cuidado, principalmente quem sofre de hipertensão e problemas cardíacos. Já a absorção sistêmica do medicamento de uso tópico é mínima; ela costuma se concentrar apenas na região de aplicação.

O cabelo perdido na alopecia androgenética pode voltar?

Apenas se o folículo capilar ainda estiver funcionando. Uma área já calva provavelmente já está com a calvície estabilizada, portanto os bloqueadores de 5AR não vão funcionar.

Já quem sofre de alopecia areata, por exemplo, pode ter seus fios de volta porque o problema é autoimune. Porém, depende da gravidade e de outros fatores associados, como o estresse e a saúde emocional.

A alopecia androgenética/calvície tem cura?

A solução para a calvície definitiva, ou seja, para áreas que já não conseguem mais produzir fios, é o transplante capilar. Ele redistribui os folículos capilares que não são afetados pela predisposição genética à calvície, deixando o couro cabeludo mais homogêneo e com as rarefações muito menos visíveis.

Outro fator importante é que mesmo o uso constante e disciplinado de medicamentos para evitar a calvície podem perder o efeito em determinadas épocas. Não há uma explicação para isso; esses “surtos” de sumiço dos fios apenas acontecem. Contudo, os tratamentos ajudam a retardar ou a diminuir consideravelmente a queda.

Quando fazer o transplante capilar?

Entre a classe médica especializada, não há consenso de quando é o melhor momento para fazer o transplante. Alguns cirurgiões acreditam que o ideal é esperar para fazer a partir dos 30-35 anos, quando o problema costuma se estabilizar. Contudo, até lá a perda de fios pode ser alta, dependendo da gravidade da calvície. Assim, os folículos da área doadora podem não ser suficientes para cobrir as rarefações.

O ideal é conversar com um especialista. Ele vai fazer a anamnese, examinar o histórico do paciente e solicitar os exames necessários para saber se ele está apto a passar pelo procedimento.

É preciso fazer tratamentos complementares ao transplante capilar?

Sim. Enquanto o transplante capilar atua cobrindo as áreas já rarefeitas, os bloqueadores de 5AR ajudam a evitar que mais folículos capilares parem de trabalhar. Ao mesmo tempo, o minoxidil faz com que os fios cresçam mais fortes e nutridos.

É preciso considerar que os medicamentos precisam de um tempo de atuação. Portanto, não adianta achar que o minoxidil vai estimular o crescimento dos fios em apenas um mês de uso — os primeiros efeitos costumam aparecer no terceiro.

Em quanto tempo é possível ver os resultados do transplante capilar?

Num primeiro momento pós-cirúrgico, o paciente pode se assustar. No primeiro mês, todos os fios transplantados caem. Isso, porém, é normal: essa queda é para o crescimento dos novos cabelos, que estão em produção a pleno vapor. 

O transplante capilar costuma mostrar os primeiros resultados entre três a seis meses após a cirurgia. É nesse período que os fios começam a crescer e aparecer no couro cabeludo. Contudo, é após um ano que o paciente tem o resultado total da cirurgia.

Agora que você entendeu como a testosterona atua na alopecia androgenética, aprenda a identificar os graus de calvície.

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